o sentido
Em cada casa, um fantasma se aninha,
Sombra ou presença ávida e esquiva.
Pulsa, agita e gira, numa dança
Viaja pelo tempo, roça, carne, o limite
Desintegra-se e emergimos maiores,
Queda de sombra,
Tosse de fumante,
Frutas caindo, ou caindo nas
Quedas, todas tocam o solo, então
É alimento ou solidão, deleite, uma fenda
No umbigo, a criança não vislumbra o paraíso.
Terra em desordem, ferrugem, fuligem,
E húmus, leite, a terra que tramamos.
O imaginário é uma teia de símbolos que
De longe parece verdade, a trama, tão
Habilmente urdida, na febre vira retalhos,
A passagem é breve, vultos e injúrias
Recordam a mesma coisa,
Barco, mar entre margens distantes.
Quem escreve as páginas desse
Muro, nervura espacial, o corpo e seu
Mecanismo de ignorância, sobre pranchas
Flutuantes, um rio cujo perfil sugere um dragão.
Não é vibrante, sua pele não se compõe
De pétalas, mas de versos sagrados das árvores.
Mas nela, trombo, a delicada e sinuosa violência,
Enganosa, sem ela, o amor não ultrapassaria
Engano, ou ponte inoportuna, a vida aquece-se,
arde, a pele arde, os olhos ardem,
e quando todos gritam, um vento frio desvirgina,
então entendemos, as coisas sabidas se iluminam.
No âmago, um jovem irado, que ao se quebrar é
Quebrado, o pensamento é um fio tranquilo que passa
Sob a porta como um carteiro, como uma enfermeira,
cujo zelo é dança, dádiva, candeia
que na escuridão é a favorita.
Somente após o afogamento, nadar não convém,
quando flutuar é fácil nas águas mais revoltas.
Os corpos conhecem outros corpos,
Maneiras indelicadas de dizê-lo,
Então, quem não se afaga, não se submerge,
E o amor não consome.