A CEREJA DO BOLO.
Entre eu e você há
Um poema que exige ser escrito.
Esta gota que caiu do meu
Olho esquerdo,
Não sabe que o direito a ignora,
E por isso vivem em harmonia.
Quando pego a caneta você me escapa
E esse tremor das minhas mãos
Pode me levar a um passo do abismo,
Sei que não vê , ainda não sabe que entre nós há um poema para ser parido.
Hoje concentrei neste espaço nosso,
Há muita terra para ser removida
E a enxada ,ca para nós . Está velha e cega.
Eu sou como a velha que areia a panela só pelo brilho,
Você é a cereja que a confeiteira escolhe para arrematar o bolo.
Ao pensar, mergulhei numa ribanceira,
Tive alguns desejos, e tentei auferir o brilho
Das possibilidades,
Aí lembrei o que minha vó dizia,
A vida é uma pedra que rola no curso do rio,
Debaixo de sete palmos de terra, habita tantas ilusões.
Novamente você me escapa,
É lisa como um peixe que foge do pescador,
Tentei te dar formas, quis te colocar no palco,
Mas a felicidade não depende do autor,
A felicidade é a mistura do que sai da caneta
E o brilho dos olhares que por ela passa.
Acho que já entendeu,
Minha incompetência literária fez jorrar outra
gota , e está caiu do olho direito,
Não foi só por sentimentos, mas por infinitude,
Pelo ângulo que te olhei, percebi o abismo,
Medi meus braços, eles são curtos,
Me retirei do palco, aguardo outra oportunidade
para mergulhar na felicidade.