CAIS
Ela estava ali de pé no cais.
O vento obstinado a invadir-lhe e desfazer-llhe
os fios das pretas madeixas,
O longo vestido negro a arrastar-se pelas pedras úmidas do cais.
O navio que longe vai
deixando rastros de branca espuma no mar.
Ela quis vê-lo partir para aquela imensidão,
Sabia que ele iria, a incerteza eivava-lhe o pensamento:
Será que voltaria ?
Só soube que ele partia,
E entre abraços longos e beijos amorosos
no porto,
Lágrimas que se misturavam.
Ele se foi.
Que os ventos de Oyá lhe sejam favoráveis !
E as mãos de ambos, acenaram num gesto quase infindo
de adeus,
Até sumirem no horizonte.
E ela ficou ali, assim, só,
Com os olhos marejados,
Os cabelos desgrenhados,
As fácies pálidas, as mãos gélidas,
O corpo febril em brasa.
Voltarei, dizia ele,
Não voltarás, dizia ela, com a convicção do seu sentir.
O céu tornou-se plumbéo, de repente,
Eolo açoitava ainda mais aquelas águas,
E grandes ondas fustigavam o casco das embarcações,
Que céleres seguiam, as ordens firmes dos capitães,
Resistindo com bravura a relâmpagos e trovões,
Ainda que balançasse forte de um para o outro lado,
Aquela nau,
Só restava a ele rezar
E rezaria,
E na luta justa pela vida, e em face de
tão grande tristeza e tal agonia,
Ele agarrou-se ao parapeito da embarcação,
Atordoado.
Quem sabe mais adiante ela até pudesse virar
e viraria...
E dentro e diante daquela procela,
lembrou-se da promessa que
há algumas horas fizera,
a sua amada, a sua donzela.
Voltarei, dizia ele.
Jamais voltarás, murmurava ela.