Samba de um Corpo Só
Li que atiraram num pai;
voltando a pé do trabalho,
no condomínio em que morava:
mataram aquele homem.
Desarmado, alma à mostra,
portando perigosamente pele preta;
sacando a chave de casa.
Inocente-morto.
Açoites em legítima defesa,
nos estalos do silêncio do grito dos afônicos;
Gritos em vão. Gritos que vão. Gritos. Surrupiados de ter-se, pelas balas achadas.
No triste sono-lugar onde Traum é trauma, na vida órfã.
Crianças, como se da infância fossem coisas,
crianças da juventude: catacrese suburbana.
Saneamento humano, do apartheid que me cerca no cinza invisível
onde não há cep ou dipirona;
onde se cala sem ter boca,
tragando o seco da impotência nos cacos de ser,
nas chagas d’mãe brasilis de moral-sem-consciência.
Lugar que ser é adjetivo,
ter é verbo intransitivo e amar é utopia.
Desemprego... é to be, na mais amarga dialética leblonina.
Gregos éticos. Carnaval e caipirinha. Très chic.
Regozijo subitamente nesses bolos feitos em casa,
pouco confeitados, é verdade. Quem liga?
Cachorro-quente da carne moída nos 365 dias de sobrevivência.
Tudo, tudo contido num giro terrestre de mundaneidade.
Tudo ao mesmo tempo,
ao mesmo sol,
no mesmo real
da pajero-e-cerol;
Futvôlei-e-assalto;
extorsão-e-belas-artes.
È bello ma non balla.
Bala.
Mais uma rajada.
Corpo ao chão.
Saco plástico.
Poça de sangue.
Chamem o IML:
o filho do abandono chegou.
Só.