Excerto insone
Toda vez que Simone abria o livro o sono vinha. Era incrível. Pensou que política lhe desse sono e tentou, então, ler sobre música… sono. Sobre viagens… sono. Sobre fofoca… muito sono.
Foi ao oftalmologista queixando-se da vista embaçada que demandava muita energia e logo sua bateria acabava e o sono vinha. Era isso. Para sua surpresa, viu-se corrigindo o médico porque — de fato — era um “p” e não um “q” naquela lousa bem distante na parede.
Nos meses que seguiram, viciou-se em café, energéticos e dormia no terceiro parágrafo. “Deve ser algum distúrbio do sono”, alguém disse na fila do banco quando a ouviu contando a uma amiga numa ligação telefônica. O click veio e Simone fez suas pesquisas no google… tudo se encaixava. Marcou a consulta.
Fez os exames requisitados. Saúde para dar, vender e emprestar. Nenhum distúrbio detectado com sucesso. Que coisa.
Passou numa livraria e comprou 3 livros: uma biografia de Almodóvar, um de ficção científica e um thriller. Dormiu, dormiu, dormiu.
Numa quarta-feira absolutamente do nada, Simone não conseguia sequer lembrar em qual livro dormiu por último e pegou qualquer um. Ao abri-lo, lembrou do trecho de outro, ao abri-lo, lembrou do trecho de outro, ao abri-lo, lembrou do trecho de outro…
Foi aí que Simone passou dois dias lendo vários livros ao mesmo tempo e não lembrou de dormir