QUE VENHA
Que venha quem desacate, desalinhe, desfie
Que venha alforriado num vão qualquer, leve e lindo
Que venha tal deus que sai do nada.
Que venha de laços soltos e alma atiçada
Pronto pra colocar meus dias em ordem
Pronto para afagar meus suores, meus encardidos
Pronto pra deixar as certezas zonzas, o andar embriagado
Pronto pra assustar meus grãos de areia, meus olhares de bicho
Pronto pra dar rasteira nas dúvidas, na fé, na verdade
Pronto pra cambalear montanhas e caçar os ventos.
Então meus dias trocarão de sangue, de feitor, de casca,
O que se fazia de morto, saltitará
O que se dizia espanado, espreguiçará
O que se dizia perdido de vez, achará.