Sempre há um céu sobre a humanidade,

seja na porosidade da consciência,

seja na linha do tempo da existência

que o universo profícua sobre nossa face

voltada aos sonhos não acontecidos...

desfeitos, perdidos, abandonados,

guardados no relicário do coração.

 

Há dias e há noites e neles dormem nossas lembranças,

faces que já partiram, mãos que não se servem mais à ceia do amor,

roupas que penduramos nos varais de sentimentos

para serem sopradas pelo vento e levados os seus aromas,

os seus cheiros, para onde um coração os quiser.

 

E sonhamos caminhos, e sonhamos gentes,

e sonhamos histórias, desejadas,

inspiradas em nossos almejos de amor.

 

Há sempre uma liberdade querendo partir,

uma lâmpada acesa trazendo dor

ao pavio e à cera que a faz ser quem é.

Mas também há um candeeiro de sonhos,

que projeta a alma para um partir por estradas

que tenham idas e voltas também...

para que possamos retornar para quando

a vontade de ficar nos inundar...

 

É quando o silêncio se abraça e aquieta,

quando se esculpe nos olhos e nos lábios trêmulos,

quando cala fundo na voz enrouquecida de seu próprio eco -

na súplica de um coração silente,

alma em comunhão com a luz,

candeeiro a espalhar sua luminescência de esperança,

esta luz que dá ritmo à existência,

que nos transborda

de querer ficar nos braços de seu abrigo,

no colo de seu brilho e calor,

nas pegadas que seus pés emitem,

na perfeição de seu amar e na mansidão de seu amor.

 

 

À Lúcia Constantino e ao Poeta do Subsolo