no sótao
No sótão onde nos ocultamos,
um porão à vista, um dia se acenderá?
A porta entreaberta, uma árvore enigmática,
frutos pútridos a crescer,
Ela se expande sem cessar na beira da serpenteante escadaria,
Um velho motor enferrujado, livros,
retrato de família já sepultada na memória.
Imagens e suas proles se desvelam ao longe,
revelando a polifonia escura
de tanta gente que contemplou a orgânica travessia entre as pedras,
anseio de expandir-se e mergulhar,
tua pele, beijá-la, conhecer o fogo do sexo
e os braços que amainam a acidez das mentiras.
Suas vestes ardendo, pois cobrem uma centelha de tormenta,
o grito natural dos que saboreiam a vastidão da vida,
enquanto ela, com língua de chamas, me acaricia,
Aflora e indaga: "Compreendes?
Não lançaria fogo na estrada
nem derrubaria o silêncio em teu regaço de cloro e cianeto.
Incinerada, aquela cigarra não canta como o pilão do café
nem inclina a xícara para o coração encontrar redenção.
Um arrebatamento me envolveu, sem olhos profundos,
duas esferas negras em lago de leite,
e desse leito do teu peito eu beberia,
pois perto de ti, me torno o que sou,
uma criança sedenta de teu abraço,
e de teu seio que dê vida às auréolas,
duas montanhas onde a voz do amante clama
alto a ponto de matar as flores no jarro, palmas das mãos,
minha amante ancestral, o suor escorrendo,
ainda te amo, ainda te guardo afogada em minha carne.
Mas quando digo eu te quero, um poço de sangue se forma
e quando ele cai, já é sangue, depois tristeza,
e a perda que já estava perdida.
Saio das sombras, o sol está alto,
vejo que as montanhas são costas saudáveis,
Sou e desejo que sejas, e nesse equilíbrio
dançar entre os vales de nossas vidas,
os meus e os teus, pois nos picos já nos amamos.
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No sótão onde nos escondemos,
um porão exposto, algum dia será iluminado?
A porta se entreabrindo, uma árvore sombria,
frutos pustulentos,
Ela cresce incessante à margem da escada serpenteante,
Um velho motor, enferrujado, livros,
retrato de uma família já memorizada.
Imagens e suas proles se revelam à distância,
Desvendam o escuro polifônico
de tanta gente que viu a orgânica passagem entre as pedras,
ânsia de se expandir e se embrenhar,
tua pele, beijá-la, saber que sexo queima
e os braços acalmam a acidez das mentiras.
Suas vestes a arder, porque cobre um fagulha de tempestade,
o grito natural dos que gozam o tamanho da vida,
enquanto ela, com língua flamejante, me lambe,
Acaricia e indaga: "Compreendes?
Não poria fogo na estrada
e nem derrubaria o silêncio no seu colo de cloro e cianeto.
Incinerada, aquela cigarra não canta como uma cafetina
e nem emborca a xícara para o coração se redimir.
Um entrevero me tomou, olhos profundos,
duas bolas negras num lago de leite,
e eu beberia desse leito do seu peito,
porque perto de ti, me torno o que sou,
uma criança sedenta de braço e que
não mais nada, somente tu és meu continente
meu quarto e minha verdade destemida
e do teu seio que desse vida pelas aureolas,
duas montanhas onde a oralidade do amante grita
tão alto que mata as flores do jarro, palmas das mãos,
minha amante antiga, o suor escorrendo,
ainda a amo, ainda te tenho afogada em minha carne,
digo eu te quero, algumas gotas de lágrimas
desce, mas quando chega no chão encontra
um poça de sangue, pois é de sangue essa fratura
de palavras, onde os signos aviários se infiltram
no pensamento, que não apenas meu, mas de outros
eus, que também eram de verdade,
depois a tristeza, a vontade de dormir, de não encontrar
o que procuro, mesmo que não saiba
e a perda que já foi perdida.
Saio da treva, o sol está alto,
vejo que as montanhas são espinhaços saudáveis,
Sou e quero que tu sejas, e nesse equilíbrio
dançar entre os vales de nossas vidas,
os meus, e os teus, porque nos picos já nos amamos.