a tarde e seu reverso
Silenciada, suave, é a tarde que cativa,
E atormenta-me; a jornada é áspera, sem repouso certo.
Alguns são farsas, e à noite as fomes do mundo se espalham,
A fome que nos condena, mas noutro ponto nos nutre e acalma.
As ruas, ao cair da noite, sussurram como segredos ao vento,
Assim como ratos deslizam furtivos por entre sombras escuras.
Uma vez, adentrei um pequeno inferno, onde alguém consumia vidro,
De sua boca irrompia fogo, havia uma amada que depois se tornou chão.
Imprecisão no crepúsculo, baldes de chama incandescente.
O nome dela ecoava como metal fresco na praça,
Onde pessoas buscam o pão quotidiano, e a vergonha
Se enroscava numa árvore centenária, folhas soltas, galhos em dança.
Evocando a vastidão de uma curva sem estrada,
Sabia, mas não disse, que àquela hora noturna,
Os jardins com seus reis, cetro em mãos frequentemente,
Enfureciam-se quando o mar se distanciava.
Ondas repousavam no fundo de uma relíquia, isolando tudo do mundo,
Mas, por alguma conexão, varriam vidas precárias
Como uma lâmina afiada que esculpe os destinos,
Nas cicatrizes do tempo, a dança eterna das memórias.
"O passado não perdura, são meras lembranças, entalhadas como feridas."