a luz e o horror

Inebriante é essa luz imóvel,

Sem a clemência ou o escândalo

De uma cachoeira batendo nas pedras.

Nem o fleumático evanescimento

Da regular marcação das coisas,

Mesmo assim, inebriante é, enclausurada

No vapor, que tramita na mesma via do horror,

Luz que ilumina, mas também respira a masmorra

De própria lama, da lânguida mesquinhez de onde

Promana, eu recuo, não deixo o vendaval de vento

Derrubas a parede da casa, das árvores que no bosque

Nos observa, nem a flor que nos enturva a vista, já

Que beleza, em nós, provoca uma perda, e nessa

Perda a beleza nos entorna e nos entrega ao

Mesmo enlace do que se cegam, e nessa luz

Estranhamente na rocha de um despenhadeiro

Apreendo que nem sempre o todo é o inteiro.

Inebriante é esta luz imóvel,

Sem clemência ou escândalo a distorcer,

Cachoeira que não se precipita sobre pedras,

Nem o evanescer fleumático das coisas,

Da regular marcação, o desvanecimento.

Ainda assim, enclausurada, inebriante,

No vapor que tramita pela via do horror.

Luz que ilumina, mas também respira a masmorra,

Respira a própria lama, a lânguida mesquinhez de onde brota.

Recuo, resiste, não deixo o vendaval de vento

Derrubar paredes de árvores e casa, resisto ao estrondo,

Observo o bosque e a flor que nos turva a vista,

Pois a beleza, em nós, traz uma perda, e nessa perda,

A beleza nos envolve e nos entrega a um abraço,

O mesmo abraço do que nos cega, e nessa luz

Estranhamente, na rocha de um despenhadeiro,

Apreendo que o todo nem sempre é o inteiro.