Incomodo
E há isso o outro cômodo da casa
O qual não visito nunca
Nunca a palavra fora tão tarde
Tão boa, tão oca, tão sentida
Lavo a louça do jantar de ontem
Lavo a alma do resto de ontem
Ontem a vida me pareceu mais noturna
Mais terrestre, mais oportuna
E há isso o outro indicio de loucura
As plantas crescem sem mim
As pessoas vivem ou não sem mim
Qualquer coisa fora de mim
Continua a ser qualquer coisa
O poema não me pertence mais
Alias nunca me pertenceu
E há isso outro plano futuro
Em dado momento não mais te vi
As nuvens paradas na janela
Teu rosto coberto de maquiagem
O tempo que mexe com a gente
Somos perenes, finitos, póstumos
Somos de carne, de ventres, de ossos.
Milton Antonios
18ago/2023