das flores penduradas
Alguém te trouxe um chá salgado, inusitado,
Coice na caixa de presente, surpresa torpe,
Tuas costas se curvaram aos pés, abatido,
Como se nada disso fosse, como um tropeço.
Quem foi? Nada não, é a gente sendo escondido.
Já varreste o chão da sala e, debaixo do tapete,
Um cigarro amassado, lembrança esquecida,
Marcas de batom quase apagadas, coquete,
Saltaram de teus ombros como navalha afiada.
Silêncio, perfume barato ainda é perfume,
E os braços, quando abertos, são ondas serenas,
A praia as recebe, como um domingo que aparece.
Refaço, a estrada também anda quando paro,
Como espinhaço curvado, ao vendaval,
Folhas e flores embaraçados, a terrível separação
Do que é amado, violência silenciosa, dança,
E como dança o corpo à violência,
Com suas diversas caras, que às vezes amor também fala.
Se lhe oferece uma flor, que sorriso bonito,
Me ama, me quer, ou apenas coquete,
De mim, uma florescência quer,
Cor das cordilheiras, do Grand Canyon, suspensa no medo,
Que queda seria mais brava, nela a queda
Já estaria amarrada, do trio que nos leva
Até às serras, a memória traz aquela
Flor antiga, descontente, solitária, e outras,
Amarelas e animadas, com borboletas,
Que metida aquela flor! Minha única flor da infância!
Se todas se parecem, paleta poliglota,
Andei por jardins secretos, verde,
Tão verde, verde molhado diria,
Onde o sol soprava alguma claridade,
Não seu rosto, mas sua lembrança.
Ao entrar no beco, aguardo a luz se acender,
Boca que deixa a língua, olhar anda lá fora,
Entre as curvaturas das arcadas,
Ar, fogo lá fora, o que há de acontecer,
Quem sabe outra língua, uma língua dessas
As pernas tremem.