Um que de quê pra quê

É pois assim um quê de nada

Um querer sem querer esperar

É troço quase medonho

Quase feio de tanto medonho

É pois assim mesmo

Sem saber direito o que querer

Também não deseja esperar

Pra quê?

Ora ora, sei, disse o velho sentado no banco da praça

Aqui toda manhã, toda manhã sem falta

Passa aqui uma mui bela senhorita

Traveste quase todo dia

Um vestido florido, uma blusa discreta

Nos cabelos lindas tranças

Ora ora, sabe o velho que morava na ribanceira?

Pois sim, foi e não se despediu

É pois um quê de nada

Mole mole vai a vida no seu trajeto

Não sei, disse o padre que passava apressado

É pois sim que é

Dia bão!

De repente o céu escurece e a chuva chega

A moça elegante de todos as dias se recolhe na cobertura da florista

O padre que passava apressado, conseguiu chegar à Igreja antes da tempestade

O velho do banco da praça, só ele, em si mesmo, não quis abrigar-se das águas

Decidiu, e todos entenderam

Que ficar na chuva era um retorno à infância quase esquecida