O sertão
Era cedo quando saí ao banho,
Caminhando na vereda solitária,
Olhando a mata verde recém-banhada,
E a passarada me dando bom dia.
Ia em direção ao rio que transbordava,
Pela chuva abençoada no sertão,
Cada gota que caía pintava a terra fria,
Onde eu pisava com o coração.
No rio, a criançada se divertia,
Pulando da ribanceira isolada,
Outros na pescaria de landuá,
Era um "ah!" quando nada vinha,
E, quando vinha, era só alegria.
A correnteza braba me preocupava,
Mas todos ali eram filhos de Maria,
E Ela, com certeza, a todos protegia.
No céu limpo, o sol brilhava,
E eu parado à sombra da oiticica,
Fitava a água fria de uma bica,
Querendo ali começar meu dia.
O ambiente me entusiasmava,
Pois transbordava alegria,
E eu, indo de mansinho, me molhava,
E compreendia de todos a euforia.
O sol alto diz que passa do meio-dia,
É hora de voltar para o almoço,
Deixava aquele alvoroço e seguia,
Pela trilha quente, um sol ardente,
Deitando sobre a mata que o refletia,
Uma moita de mofumbo contorcida,
O marmeleiro que, ao vento, pendia,
Assim é o sertão quando chovia.
Chegando em casa agradecido,
Sobre a mesa, um banquete sem igual,
Jerimum, maxixe, milho cozido,
Feijão verde, piaba assada na brasa,
É sempre bom voltar pra casa,
E ter tanta iguaria a escolher,
Este é o sertão da infância passada,
Não há lugar melhor pra se viver.