Travessia

Recolho-me areia na covardia de um grão

Disfarço clima afável nos extremos do deserto

Sei do mar só o seu instinto inexorável de morte

Fico, finco. Não atravesso.

Olho as pegadas alheias e finjo companhias

Anoiteço e amanheço em esteiras de mim

Sonho com o outro lado e adormeço o futuro

Finco, fico. Não atravesso.

Parto-me, não parto. Não nasço. Adapto-me.

Minha gravidez de mim me aguarda adiada,

Não ressurjo e, das cinzas, respiro o seu calor

Fico, finco. Não atravesso.

O mar, ali na frente, é gigante e assassino

A travessia é risco de ondas e tempestades

Finco os pés na areia. Fico no deserto sem mim.

Não atravesso. E me desapareço no espelho.

Osvaldo Júnior
Enviado por Osvaldo Júnior em 14/08/2023
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