para Rinbaud

Meio-dia, o vazio plana,

A sombra sobre si mesma se projeta, o sol se cala,

Só a claridade desmedida, a escuridão se desvanece na intimidade das coisas,

Silêncio acrílico, meditação do infinito.

Infrutífero, tudo se dissolve no vazio, tudo é vazio no todo,

Desapercebidos, os homens se perdem na face da normalidade,

Na praça, a vida se reflete na elegância de um copo, na amplitude de uma mesa.

A menina, a donzela, menos imberbe,

Velada, ela viu os céus caírem sobre a terra,

A praça atravessada, como se o tempo não lhe pertencesse,

Mas aos outros, de onde brota o desejo,

Ela mesma, mais do que sabe de si mesma,

Ela simula, se eleva na alegoria da indiferença,

O que seria da vida sem esse palco,

O teatro se monta, os aplausos se silenciam,

Pois de outra forma, o acordo se romperia, tornando-a dramaticamente saltitante, insolente,

Amada, encantadora, selvagem,

Ela avança, os olhos (dos outros) se estendem como dedos alongados,

As narinas enquadram, sorvendo o néctar precioso de sua pele,

O ouro transformado em prata pelos anos,

E mais tarde, relíquia moldada na história,

Ela floresce, pensamento desabrochado, ou deflorado, como uma rosa,

Tão requintado quanto indelicado,

As raízes das pequenas coisas a enobrecem,

*ois todos temos fome,

E sabemos que a verdadeira boca é a do corpo inteiro, que, diante da presa, saliva e treme a pele,

Na corrida do desejo.

E num instante, todos nós, animais,

Onde a carne devora carne, e as artimanhas da modernidade

São translúcidas, senão opacas,

A beleza que se espalha, os corações que batem,

Como se a morte estivesse na vida, e a vida sem falta fosse um desenho de concreto,

Ou um filme, onde a revelação seria consumida.

E tudo isso está escrito e inscrito na gravidade das coisas, todas as coisas,

Essas coisas que, fora da poesia, se movem do mundo,

Essas coisas que, mesmo tendo um nome, continuam sendo coisas, ligadas ao nada.

Enquanto isso, o rio desenterra os mantimentos do futuro,

Não é tempo, mas sim essa terra crua ou adornada, trocando de máscaras:

Leela e suas Ilírias viajando de pedra em pedra,

enomeando os olhos para que saibam que a pedra é viva como todo substantivo,

Murmurando que o mar inteiro é salgado e que em sua profundidade, nossos pais estão afogados.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 13/08/2023
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