gosto de pólvora
Era um amor oculto, contido com violência, a pele, rubra revelação,
No coração, o disparo, silencioso e distante das mãos,
Sangrava, mas os nomes flutuavam dispersos,
Na sala, a mesa recitava suas orações, em outros momentos,
Minha mãe, de cabeça baixa, não se aprofundava nas palavras,
Dor era crua, fogo quando degola a lembrança, e a rua, íngreme,
Como qualquer sonho, veloz e translúcido, como se visse
A delirante fome que guardava o futuro nas curvas,
Onde se abririam para o mundo.
Num baú repleto de cartas e desacertos, eu enfrentava a torpeza,
a envergonhada portaria os homens contavam seus esforços
O rádio, sem necessidade de advérbios, emitia palavras soltas,
Usávamos apenas quando o desânimo relembrava de um amor perdido,
Uma foto, uma revista preta e branca, uma fachada que
Dependendo da casa, a mesa se enchia, e os homens
Limpavam seus metais, esposas se vestiam para a rua e rua
Libidinosamente as aguardava, pois o amor desprovido - tédio -
É o mais valioso do mercado, viagens, batons, o último
Das lojas, sapatos entrelaçados, madeira dialogando com o piso,
E a poesia – impulsiva e estremada – abusava
da aurora e do crepúsculo que ofereciam a todos os dias.
Nem as televisões, nem as pinup's orçadas, conseguiram
Compor o quadro completo, talvez um devaneio onde
Eu fosse um rei entranhados numa cama ensolarada
eu era quem traçava minhas pernas, a mala e o livro
que mais tarde, uma foto entre as folhas dizia que...
( a lua é preferível a levante de automóveis)
Barriga, o embaraço , os dentes eram os mesmo,
fiz uma foto que ria, mas minha bochecha afundou
finalmente minha boca com todos os móveis foi registrada
mesmo que não fosse fosse, vida se avoluma e passa.
Em que nome cabe nas coisas que acumulam muitos nomes, o verbo aplumado
Era um manto, desconhecido, nunca visto antes,
Sabendo mais dos sapos, dos grilos e do naufrágio que,
Emocionante, deu sabor intrigante ao restante da paranóia
Poucas palavras eram interrompidas por uma quietude
Que apodrecia, fechava a boca das coisas,
Então, sabíamos que éramos imortais,
Mas mortais ao ir para a escola ou
Ao declarar amor a uma garota que nos amava,
Depois, é uma roda, é um retorno, que não é roda quando
Distraídos, e, um dia, crescemos, o gosto de
O gosto de pólvora ainda explode na minha boca