ninfas

Este tempo é meu, funde passado e presente,

Nas pupilas de todos os exploradores,

Onde se aninha a pureza, farinha

Na vastidão desolada.

Vou-me tornando brasas, constelação de temores,

Em cada ponto uma torre aceso farol,

E de uma criança brota um grito noturno, vindo do ventre.

Lago, pedra, montanha,

De onde homens se atiram, mas só findam quando a lembrança

Desperta, na sala, uma piscina, virginal, de sangue e gasolina,

O temor, entranhado, e o suave aroma

De uma morte não esperada.

Morre-se de maneira contínua, não na discreta

Conclusão que engendramos.

Dias desvanecem, discretos como alvores ensolaradas.

Não aguardo, não fujo, sou estrela antiga,

Céu é recordação veloz, assim como o nome feminino,

Veloz como a muralha de um presídio, e os momentos amados,

Batem na face do tempo, magnetizados pelo presente, revelados pelas lentes.

Insolente auxiliar de um nobre de pernas longas,

Transcrevemos no papel, oferecemos como parte do cosmo visitado.

Deserto, torvelinho infame, linguagem excede,

Perfura o coração das ogivas secretas, no âmago das coisas

Descobrindo portas esquecidas.

Desdobro os braços, o universo acolhe, antes destilo lavas,

Devoram casas do caminho. Caminho, mas mortos absorvem

O amor da terra, e ela os acolhe com uma incisão no ventre;

Chicoteiam a mímica que a poesia repudia,

Sangue de grama banhada em fantasias, vingança ávida e silente

Das memórias. Fenecimento quando as palavras

Degolam a febre, sem cabeça,

Mesa da sala, famílias, uma após a outra,

Inscrevem desejos nas laranjas da toalha bordada,

Rosas vivas, orvalhadas, pétalas respirantes, beleza concisa, motivos,

E os meninos sempre souberam da beleza de cada momento vivido.

E nas vias de pedra, floresta encantada, cada

Árvore é arbusto de asas,

A prata da vida envolve uma casa, mãos e abrigo,

Olhos aprofundam-se, impureza confere veracidade,

Substância que nos nutre, e certamente, uma ilíria encantada dança

Nas folhas das árvores.

Neste instante, o viajante sacia-se,

Enquanto sua jovem amante, corpo como abismo, narra as casas dos botões,

E também, a cor da camisa devorada por seus olhos.

Outras partes de mim, latidos de cadelas,

Sorvem os desatinos, sombras, tapete de cedro em decomposição,

como em decomposição são os dias desolados.

Outro lado da moeda de ouro, fuligem de madona queimada,

Então, uma lavadeira entoa,

Canta e consome o pão dos pescadores,

Pão que, em vertigem, se converte em ária,

O som remete à memória de uma ninfa que ama somente os desenganados.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 11/08/2023
Código do texto: T7859006
Classificação de conteúdo: seguro