Tempos de retrocesso
Nesses tempos de retrocesso
Tudo que se move
Pode ser outra e qualquer coisa
Retrocederam os risos
Retrocederam os afetos, os abraços recuaram
Os amigos são estrangeiros, são forasteiros
Todas as possibilidades do encontro foram desmarcadas
Tudo tem novas e tristes faces
Nas ruas ninguém mais se olha
Todos são estranhos, todos são suspeitos
Todas vontades sufocadas
Nas esquinas olhares esquivos
Nos bares palavras suspiradas
Em cada canto; uma emboscada
Nos telhados homens camuflados espreitam alvos na multidão
Nada mais é
Nesse caldeirão de medos; todos são suspeitos
Nesses tempos de retrocesso
Tudo que era não existe mais
Na impossibilidade de algo novo acontecer
Resta no pantano a flor de lótus