rio de nós mesmos
O rio desliza majestosamente,
sobre a relva incandescente, ardente,
fluindo incessante, solitário em seu leito predestinado.
O ar acaricia sua face, um sopro suave.
O espaço se desenha à sua passagem,
percorrendo os abismos da solidão, um curso marcado;
ele avança, desbravando trilhas,
acariciando árvores, pedras,
acalmando as areias de noites insones.
Ele reflete o céu, um espelho de azul sereno,
às vezes rasgando o caminho estreito,
outras vezes, a reflexão do pensamento distorce a jornada.
Mas o eterno o descobre, e desvenda sua insignificância.
Silenciosamente, ele se duplica, espelhando a si mesmo,
imerso na cadência pausada de sua esfera,
esperando,
desvelando sua essência.
Ao redor, perguntas sem resposta,
ao redor, a tapeçaria tecida e desfeita,
os vestígios de colheitas passadas.
Ele emana a sensação de dor,
de prazer,
de existir.
Sua nascente é um turbilhão violento,
cuspidor de lavas vulcânicas,
uma região inóspita e inexplorada.
Sem olhos, sem olfato,
analfabeto na linguagem da humanidade.
E assim, ele persiste em sua verdade,
numa dança sem nome, mas repleta de dignidade.
Deságua num abismo de cores,
nos carregando,
nos engolfando,
nos submergindo,
nos amando,
até que, ao final, nos transforma.