partirás a galope
Não serás testemunha do lento apodrecer da lua,
ocultada entre os prédios altivos,
nem da corrente turva do rio se extinguindo;
Não verás o corte repentino da luz no quarteirão,
nem o tombamento da árvore frente à fúria da tempestade.
A cidade, com sua sinfonia de sons e cores,
não será contemplada por teus olhos atentos,
os prédios e as ruas, em sua dança incessante,
escaparão à tua percepção, oh viajante do tempo.
No campo, os trigais ondulantes e os rios tranquilos,
a brisa suave que acaricia os cabelos, tudo isso
te será negado, como sombras fugidias que se esvanecem.
E os amores, ah, os amores que florescem e fenecem,
não serão tocados por tuas mãos, nem aquecidos por teu peito,
serão como pássaros que voam além do alcance,
deixando apenas o eco suave de seus cantos distantes.
Mas não temas, não lamentes, viajante do tempo,
pois o sol da noite mais longa,
uma vez mais, coroará teu firmamento.
Serás compelido a pairar sobre o fogo escaldante do asfalto:
cuidado, para que não abrasares
teus jovens pés, descalços e sedentos.
E um vento, lento e fresco, renovação vital,
de origem obscura, mas deslumbrante,
há de arrepiar o espaço que aguarda,
infinito e acolhedor sob tuas asas, incansável...
Nele, lançarás tua partida, em um galope destemido.