o movimento da lua
A lua atravessa a noite e não nos damos conta
De sua trajetória, ora ali, e minha mãos vagueia
Pelas coxas da vida, levanto seu vestido e uma
Serenata noturna sai como uma flor de látex
Na escuridão daqueles que sem nome vagueia pelas curvas do deserto,
A luz, um fiapo sem compromisso rasga a noite e pela falta
Parece tempestade, a praça por onde eu vi meus primeiros
Anos se consomem e recebe o asfalto que nada mais é
O desvio de um rio que poderia pintar de verde uma plantação.
Lembro daquele homem, sequer sei o som da sua fala,
Que lugar da casa deixava seu chapéu quando entrava a porta,
Como uma sombra que vaza do tanque de sangue e agonia
Que no corpo estrangulava uma lembrança, eu encontro
Uma saída improvável só pra dizer meu nome, para escrever
Na pele desse amor desperdiçado com letras ilustradas e
Limpas, como aquele pátio da escola depois que as crianças
Subia a escadaria, meu nome, que minha mãe há tanto custo
Escolheu, e meu pai não soube que argumento esconder pra
Não dizer que eu era rei dessas terras sem donos, desses currais
Abarrotados de vacas e carneiros, que ia daquela planície perto
Da serra até onde os olhos pudessem deixar seus pés, não, a poesia
Não vem de casa bem conservada, com água encanada e boa
Despensa de domingo, a poesia não sabe de si, somente quando
Essas mãos sujarem de sangue e o pus seco não cair em pedaços na folha
De papel, a mesa é uma continente e sentado em minha solidão, a poesia
Se abre como a terra quando ama um morto.,