EFEBO
filho unico do mito da rocha e da estrela
cresci no vale da sombra da cruel escolha entre a certeza do chão e a possibilidade do céu
dependente do leite que me era dado em fartos jatos sem que eu ao menos sugasse, jamais soube o preço do leite nem a origem do mel
e assim carregava meu esqueleto de açúcar pelos caminhos suaves que se me abriam num piscar de olhos tolos e soberbos
filho único fruto da absurda união do fogo e do linho que, de tramas consumidas, um se apagou e o outro me deu ninho
o que me diz hoje o espelho quando diante dele me ponho, desatado de mim mesmo, nu de alma, pobre de história e sozinho?
talvez me diga apenas o que quero ouvir, temendo a reação apaixonada, inflamada,
de quem nasceu porcelana e nunca passou de efebo.