Desencanto
Desvendar enigmas por hábito
Habitar cantos que desencantam
Cantar dissabores por gosto
Gostar do que os prantos ocultam.
Acolher as faltas que pousam
Pousar nas aspas do instante
Constar no espaço o comprido
Do olhar que vislumbra adiante.
Ouvir nãos com mais leveza
Levar o que se tem à mesa
E amar com o que não se tem,
Confiando o destino à reza.
Distrair como quem se entrega
Entregar como quem expande
Pois até no encolher é grande
Quem dos fardos se desapega.
A água das mágoas escoa
No fluir onde o mar deságua.
Livre do peso, sou flutuar —
Léguas aléns: paz que ecoa.