Claritudo

Do seio do estupro e da devassidão,

Nasce – já morta talvez – a flor

Lírica e bela do Leste: Clarice!

Nascera clara em meio a escuridão,

Esta, inseparável companheira, faz-se-lhe tão incandescente.

Onde te encontrar,

Se quanto mais te perscruto

Menos te vejo?

Nos destroços ou espólios de guerra?

Esfinge.

Bacante errante ensina-me

Os rodopios doidos dos homens loucos

Que semeiam o vento?

Ergo-me como folha leve,

Que flutua, e, tanto mais o teu sopro encontra

Repouso nas velas de minha mente,

Torno-me pesado e material.

De ar gélido e denso,

Encontraste, no Sul, o calor

Que lhe pôs a alma

A sambar em carnavais de mistério.

Apesar de criar-se sobre pedra,

Fraterna de uma promessa divina,

Soubeste tão bem tocar a nossa alma decaída,

Dela rir e enternecer-se.

Que mais posso desejar de ti?

Nada, nada: e do nada, faz-se tudo

Ernesto Gomes
Enviado por Ernesto Gomes em 31/07/2023
Reeditado em 06/08/2024
Código do texto: T7850569
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