Buraco
Acordei nos braços de uma mulher
pensando em outra.
Ah, o horror.
Sensação de desconexão da realidade.
de que perdi minha razão
em algum lugar.
A mulher sorri,
o marido estava longe,
e ela tinha encontrado algum prazer,
finalmente.
Era a culpa, talvez
que lhe arrancava os gemidos,
e não eu.
Mas enfim,
eu pensava em correr no banheiro
e desaparecer
ralo a fundo,
gritando meus impropérios
encanamento abaixo.
Mas eu estava preso,
e continuaria a estar,
com as cordas que teci
ao meu redor,
por ainda acreditar...
um dia eu escapo,
e talvez volte pra mim mesmo,
antes do fim.
Mas eu quero que você saiba,
que eu não vou voltar
daquele jeito.
como o cara
que costumava te esperar,
e procurar sinais
entre as estrelas,
de que chegaríamos
a algum lugar,
no fim da noite.
Há sempre alguém,
no fim da linha,
na última cadeira,
do último bar,
E lá que eu vou estar,
sempre a procura,
de um ombro,
de um seio,
um buraco,
ou algum vazio
para me enfiar.