verão lembrado
Durante aqueles anos as pareces eram
as ninfas de nossas bocas, quando
a fumaça deitava e a paredes as recebiam
Sem nada dizer, a senhora que fazia da
Vida uma procissão, que batia na dureza
de uma carne ignorava, mas que sabia pronunciar
um amor vivo, que brotava de um tempo mítico,
suavemente tolerado por uma vida toda desgraçada,
Olhávamos juntos para o rio que alimentava
A cidade com goles que nos machucava,
Os indolentes não eram treinados para uma
Prometida e silenciosa mesa, em que
A toalha da mesa, com suas maças vermelha
E suas laranjas carameladas de tristeza
seria tomada por silenciosa oração de amor.
À janela meninos batiam e uma pluma
Banhada de perfume voava pra onde o
O ano inteiro enterrávamos nossos mortos,
A noite devorava o dia, seus dentes eram
De cão abandonado, e nos céus que rodeavam
O casebre, as andorinhas treinadas por
Uma Pedra invertebrada dava rodopios
Sobre os telhados e se misturavam com as
Cigarras que gritavam quem era até que
Estourar o próprio corpo e todos as víamos
pela manhã como um pequenos
Farrapos pendurados nas cascas das árvores,
A minha mãe fazia o que lhe cabia, meu
Pai o que não podia, e eu, nem sei o que era
Quando a chuva entrava pelos olhos dos
vizinhos e vazava em nosso leito de dormir
uma vida toda azul como céu de algum
verão lembrado