O Ser em Si

Narciso, ao espelho, fita o olhar vaidoso,

Reflete-se em si mesmo, qual estátua de alabastro,

Na estagnada fonte, encanta-se orgulhoso,

Em êxtase consigo, de um amor desastroso.

Em marés bravias, ergue o ego em seu castelo,

Despreza a essência humana, num enleio desmedido,

À sombra de si mesmo, encerra-se no apelo,

Desdobra-se em caprichos, egoísta e perdido.

Negligencia a tristeza alheia, ao lado passa,

Do mendigo ao nobre, cego em sua lida,

Sua sede é profunda, e a sede alheia escassa,

A ânsia egoísta o envolve, amarga e dormente vida.

Na frieza das atitudes, mascara-se em espeque,

Embalado por uma só voz, do ego em comandância,

Ignora o pulsar do mundo, o grito que padece,

Emerge no casulo, num egoísmo em fragrância.

E assim, o Ser em si, preso na própria teia,

Desatina no ego, na órbita do eu central,

Pois no emaranhado, em solitária aldeia,

O mundo resta oculto, em seu ego tirano e trivial.

Bernardo Reis
Enviado por Bernardo Reis em 28/07/2023
Código do texto: T7848168
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