Quando o amor se fez
Num tempo que não volta mais/
Ainda criança/
Como as demais/
Sujas mãos de barro/
Com a espada de discípulo jurando lealdade/
Ainda brincando no quintal/
De cinderela e rei/
Como num sonho divinal/
Sem qualquer vaidade/
Quase sem querer /
Naquela escuridão da idade/
Descobrir a luz na janela da cidade/
Sob aqueles olhos extremamente azuis /
Aquela pele clara como o amanhecer do sol/
Envolta numa boca avermelhadamente carnuda/
Com cabelos feitos de mel/
Naquele corpo, onde a perfeição adormecia/
Atônito pela sua beleza/
Que a mim se manifestava/
Me perdir na fantasia/
Nem entendia os sentidos/
Só te queria/
Ah como te queria/
Ao cair da noite/
De muitos luares/
Envenenado pelo teu olhar /
Traspassado pelo teu enfeitiçar/
Estava eu a pensar/
Aprendendo a duras penas/
Que a minha liberdade te pertencia/
Dias em muitos dias/
Eu só queria, te olhar/
Pra amenizar aquele ardor/
Que eu não compreendia/
Mas a cada segundo/
Como um vício me consumia/
Sentindo, sentindo a dor doendo /
Como tantos náufragos/
Na mesma maresia/
Eu sofria/
Na insanidade da razão/
Sem tua permissão/
Te ofereci o meu coração/
Quando percebeste a minha ousadia/
Eis a minha agonia/
Um pecado a saldar/
Aquela flor/
Que parecia tão frágil quanto seus espinhos/
De tão doce pra se tomar/
Era tão agressiva/
De nunca se imaginar/
Feriu-me mortalmente a alma/
Ao me negar/
Qualquer esperança de tê-la pra amar/
De primeiro amor/
Ainda adoço na boca o amargo/
De jamais, ao menos as suas mãos tocar/