Depois
Das minhas entranhas reviradas, agora refeitas
Ressurge o brando semblante que te observa.
Por longos períodos, evitei tua face
Tamanho o embaraço que o feitiço evoca.
As incongruências, as deformações, os discursos:
Tudo foi em vão, tudo está morto
A chama púrpura desfeita em puro desencontro
As vozes vazias ecoando nos papéis manchados.
Sublime é encontrar-me ignorante de teus passos:
Finda a assombração de acompanhar tuas andanças.
Somente envolto na proteção de estar distante
É que posso respirar sem turbulências.
Os ruídos do que jamais dissemos
Atravancam nossa mais generosa tentativa
De sermos amáveis sem sermos hipócritas.
Entretanto, somos fatalmente hipócritas; e, não obstante, cordiais.
Entre nós, já não há apelos ou palavras suspensas
Aguardando um resgate à beira do abismo.
Estamos perdidos em alto-mar – contudo, não há ondas.
Tudo é calmo; meus olhos te acolhem com a ternura do depois.