Depois

Das minhas entranhas reviradas, agora refeitas

Ressurge o brando semblante que te observa.

Por longos períodos, evitei tua face

Tamanho o embaraço que o feitiço evoca.

As incongruências, as deformações, os discursos:

Tudo foi em vão, tudo está morto

A chama púrpura desfeita em puro desencontro

As vozes vazias ecoando nos papéis manchados.

Sublime é encontrar-me ignorante de teus passos:

Finda a assombração de acompanhar tuas andanças.

Somente envolto na proteção de estar distante

É que posso respirar sem turbulências.

Os ruídos do que jamais dissemos

Atravancam nossa mais generosa tentativa

De sermos amáveis sem sermos hipócritas.

Entretanto, somos fatalmente hipócritas; e, não obstante, cordiais.

Entre nós, já não há apelos ou palavras suspensas

Aguardando um resgate à beira do abismo.

Estamos perdidos em alto-mar – contudo, não há ondas.

Tudo é calmo; meus olhos te acolhem com a ternura do depois.

pedro toscan
Enviado por pedro toscan em 25/07/2023
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