Canção do desespero
Enquanto rezava,
Mantinha o olhar atento ao céu,
Ajoelhado ao chão frio
Rubro e pueirento
Sob um teto cheio de buracos,
De conseguir ver o manto cinzento
Das nuvens espessas e cruas
Tão distantes
Quanto as minhas esperanças…
De certo eu não podia comparar
O mesmo céu
Com o piso de terra batida
Do meu pau a pique
Sem tramelas nas portas
E janelas
Com a simplicidade da minha reza…
E era tão pura e casta
Que nos primeiros raios da manhã,
Já Deus me visitava.
Eu tinha tudo.
Mas o que tinha não me bastava.
A força de uma oração
Que abre o peito e cala
Sob a Bíblia aberta de um cristão
Não será mais forte
Que o meu choro
Quando eu não tinha nada e nada pedia…
Hoje.
Com tudo que tenho,
Me envergonho de precisar pedir-Te
O que sempre me ofereceu de graça:
Paz.