PAISAGEM PAULISTA
Do outro lado
a paisagem verticaliza-se
rasgando o céu
em mil lanças fincadas.
Torna-se rude
planejada,
Retilínea.
Engana os olhos,
ou melhor
educa-os a sempre olhar para um horizonte distante,
onde o ser humano se apequena dentro das toneladas de concreto armado
em um espetáculo aterrador
A civilização expõe os mil nervos de seu corpo titânico.
Avoluma-se
Cosmopolitiza-se
Em seu traçado concreto e planejado.
Está paisagem, porém...
Distoa do conglomerado humano que a habita.
Se as casas de erguem em monumento contra o chão
em fileira uniforme que assombraria qualquer legião romana.
Por outro lado, a gente segue seu rumo em desordenado frenesi de vozes e vontades.
É a vida dizendo que não pode ser murada.
E mais ainda
Se esta paisagem assombra o visitante desatento,
se suas linhas tentam conduzir o olhar aos cumes de uma acrópole contemporânea
na altura do chão
logo ela revela os dedos enrugados de sua obra.
Nas casas apinhadas em morros, derramando-se nestes como entulhos de uma tragédia escondida. Nas não casas que se aglomeram em canais, numa trágica luta de equilíbrio frágil entre ser gente e ser bicho. Nas ainda menos casas que nas calçadas se acumulam, acumulando em si uma massa inominada. E nos corpos sem teto que o não couberam em canto algum.
São Paulo é, antes de tudo, o contraste de uma ideia. É veloz, mas carregado de cansaço. É intenso em suas contradições múltiplas. É cinza, mas tem os muros grafitados. É poesia, mas é também tiro. Ambos tingidos de vermelho.