Os Sons Encantados da Desinspiração...
Minha inspiração correu atrás dos sons jamais esquecidos
Dos meus boleros e tangos preferidos...
E, então, os acordes de “Caminito”, “Noche de Ronda”
“El día en que me quieras” e outros, singraram
Os mares da saudade dolorida. Ah! A solidão sonda
Sempre com sadismo os sons que me encantaram!...
Fazia apenas alguns dias que o ofício
Do viajar poético não exercia e ali não parecia difícil
Retomá-lo. Peguei caneta e papel, e busquei o poetar,
Enquanto os tangos, como asas deltas da emoção,
Elevavam a alma em giros soltos pelo ar,
No agitado e inebriante voo da Inspiração!
Como um Vinicius recriando sua Garota de Ipanema,
Assim já me sentia, ouvindo os sons que me inspirariam o poema!
Mas o poema não nasceu... Confesso, não me entendi...
Claro que a emoção da música era emoção passada,
De tempos e amores perdidos e acabados. Mas, havia ali,
Inspiração para mil poemas e, no entanto, nada!
Da minh’alma, nada para o papel ainda houvera fluído!
Minha mão estava inerte e o verso continuava esquecido...
Quando os tangos pararam e o meu poema de amor ainda não
Havia nascido, vi que o não-verso era um grito de uma alma incauta
Que pensa - pobre poeta tolo - que alguma inspiração
Pode emergir dos sons do amor que lhe falta!
Santiago Cabral