Potes translúcidos

Também coleciono despedidas

em potes translúcidos nas prateleiras da vida...

E, guardo, num livro do tempo,

a densidade concreta de um momento

que já não sei mais se houve de fato,

ou, se foi fruto de minha ilusão.

 

Queria tivesse havido.

No entanto, um lado da vida foi embora.

Fez as malas e fugiu para o escondido profundo,

onde não o acham nem as sobras da aflição.

 

Não vi beleza nessa renúncia.

Nem pés de balé na pedagogia da dor.

Vi precipícios e cais de sofrimento ainda desconhecidos.

Vi lágrimas mutilando a brandura da face.

 

E, se hoje ainda há uma última poesia sobre o tampo da mesa,

é porque ela se inflama

no sopro daquela que, face mutilada,

escravizou a alma à criação...

 

É... eu sei...

Coleciono despedidas

em potes translúcidos

sobre as prateleiras da vida...