ABAPORUS

Os quadros são antropófagos...

Começam a nos devorar pelos olhos,

atraem-nos, hipnoticamente traiçoeiros.

Enjaulados em molduras, espreitam-nos.

Olhamos.

Contemplamo-los e nos perdemos.

Brancos pensamentos nos dominam,

O motivo estático de boca aberta na parede

e a tela branca em nós.

Confusão.

Sentimentos chegam, lembranças se materializam.

Espectros passeiam no pensamento,

no jogo de olhar a que nos submetemos.

Tempo momento eterno se intensifica em nós.

Vácuo?

Contempla-me e se perca, ordena ele.

Contemplo-te e me devoras, sabemos nós.

E começa a dança de seres amorfos em nossa alma,

roda de sentimentos que em vão tentamos reconhecer.

Recorte.

Um quadro na parede

e outro quadro de tempo deslocado no tempo nos abocanha.

Sensação de estar num elo desprendido da corrente de Cronos.

Contemplação, sensações, inexatidões.

Modorra.

Os quadros nos sugam e nos paralisam,

Antropofagia anestésica, êxtase...

Entorpecimento.

Canibais feiticeiros, cinemas de uma só cena sem tensões,

Só contemplação. Calma degustativa.

Prendem-nos com elementos de nosso inconsciente.

Levam-nos para dentro deles

e albergam-se para sempre dentro de nós...

Amadeu Guedes
Enviado por Amadeu Guedes em 10/07/2023
Código do texto: T7833376
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