ABAPORUS
Os quadros são antropófagos...
Começam a nos devorar pelos olhos,
atraem-nos, hipnoticamente traiçoeiros.
Enjaulados em molduras, espreitam-nos.
Olhamos.
Contemplamo-los e nos perdemos.
Brancos pensamentos nos dominam,
O motivo estático de boca aberta na parede
e a tela branca em nós.
Confusão.
Sentimentos chegam, lembranças se materializam.
Espectros passeiam no pensamento,
no jogo de olhar a que nos submetemos.
Tempo momento eterno se intensifica em nós.
Vácuo?
Contempla-me e se perca, ordena ele.
Contemplo-te e me devoras, sabemos nós.
E começa a dança de seres amorfos em nossa alma,
roda de sentimentos que em vão tentamos reconhecer.
Recorte.
Um quadro na parede
e outro quadro de tempo deslocado no tempo nos abocanha.
Sensação de estar num elo desprendido da corrente de Cronos.
Contemplação, sensações, inexatidões.
Modorra.
Os quadros nos sugam e nos paralisam,
Antropofagia anestésica, êxtase...
Entorpecimento.
Canibais feiticeiros, cinemas de uma só cena sem tensões,
Só contemplação. Calma degustativa.
Prendem-nos com elementos de nosso inconsciente.
Levam-nos para dentro deles
e albergam-se para sempre dentro de nós...