FLORES DE CHUMBO*

Uma primavera estranha, feita através

De flores de chumbo, se desenvolve

Ao redor dos jardins e cresce com eles.

Se trata de uma noite de muitos anos

Para a qual as respostas não costumam

Surgir de onde se espera, de onde

A esperança mais produz os seus pedaços;

Mas de alguma região do pesadelo

Que nos sufoca enquanto ousamos

Seguir pelo mesmo caminho, entre

Montanhas, entre moinhos, onde

Se derramam gotas pequenas, de ferro,

De ódio e de sobressaltos. Dormiremos

Entre peixes contaminados. Árvores

Que, ao invés de frutos, produzem

Enforcados. Estradas que, na verdade,

Nos levam para o abismo, em meio

Ao fétido outono desses viadutos;

Dutos altamente explosivos. Encima

Deles, vivas casas. Paisagem, miragem

Potencialmente perigosa. Sinos sombrios

No alto da capela. Sinais sombrios:

Poesia vetada, mar por onde bóiam

Cadáveres, baleias. Chuva profunda

Chuva ácida. Água podre. Água morta.

Urubus e águias. Inebriante cheiro

De um ventre. Vida oriunda de algum

Bueiro ou lodo. Vida, não se sabe

De que tipo ou de qual propósito.

Apenas vida. E se existe luta ou

Palavra que a defina, nem tudo

Pode ser dado ante essa estranha

Primavera, cujos indícios são bastante

Contraditórios entre si . E entre

As fronteiras que cercam os jardins

Verticais.

*Poema premiado no 54o FEMUP (Festival de Música e Poesia de Paranavaí-PR) em 2019 e publicado em meu livro "Falsas Estradas" (2021)

Poeta Francisco Guilherme
Enviado por Poeta Francisco Guilherme em 07/07/2023
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