Boca

Fiz um chá

por não tomar

o teu café,

e pra me por de pé

nas horas frias

de uma manhã qualquer

pra acordar

e escapar do gelo

do lado de dentro,

eu abro a porta,

e me fecho

pensando,

em todos os momentos

e em todas as memórias

onde você não está,

E lá vou eu,

mais uma vez,

abrir os olhos

pra passar o dia sonhando,

e perder o sono

na hora de dormir.

Mas eu sei,

com a mesma convicção,

de quem não sabe nada

que o tardar das horas,

sempre há de me levar

ao mesmo lugar

E de cara com o espelho,

me confronto com meu ego,

ferido

injuriado demais

para mudar,

Clichê, talvez,

e talvez o problema seja justamente

o tom pesado

com que tomo minhas conclusões

e que traço os meus versos.

Mas eu não me engano

a ponto de achar

que a consideração de quem lê

seja fundamental,

para continuar escrevendo.

Escrevo por não ter

nada melhor por fazer,

e por tanto querer,

realizar com os dedos,

o que minha boca

já não pode viver.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 04/07/2023
Código do texto: T7828987
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