Boca
Fiz um chá
por não tomar
o teu café,
e pra me por de pé
nas horas frias
de uma manhã qualquer
pra acordar
e escapar do gelo
do lado de dentro,
eu abro a porta,
e me fecho
pensando,
em todos os momentos
e em todas as memórias
onde você não está,
E lá vou eu,
mais uma vez,
abrir os olhos
pra passar o dia sonhando,
e perder o sono
na hora de dormir.
Mas eu sei,
com a mesma convicção,
de quem não sabe nada
que o tardar das horas,
sempre há de me levar
ao mesmo lugar
E de cara com o espelho,
me confronto com meu ego,
ferido
injuriado demais
para mudar,
Clichê, talvez,
e talvez o problema seja justamente
o tom pesado
com que tomo minhas conclusões
e que traço os meus versos.
Mas eu não me engano
a ponto de achar
que a consideração de quem lê
seja fundamental,
para continuar escrevendo.
Escrevo por não ter
nada melhor por fazer,
e por tanto querer,
realizar com os dedos,
o que minha boca
já não pode viver.