Blues para uma sonata!

Quando eu acordo

Acorde insensato nato

A chuva cai em grande desatino

Lavando a alma de um dia claro

Onde a paixão se volta ao seu olhar

Embalando ritmos de uma décima acima

No vasto campo da rima dada

Como esses blues para uma sonata

Cantando forte a palavra amor, amor, amor

Quando eu acordo

Acorde insensato nato

A tua brisa me deixa em apuros

Tão baleado quanto um assaltante burro

Que rouba uma rosa despetalada

Como uma nota sem alguma sintonia

Que tenta medir na sua luz exata

O brilho desses blues para uma sonata

Arrancando formas da palavra amor, amor, amor

Quando eu acordo

Acorde insensato nato

Um choro claro feito uma criança

Solto em falsete por qualquer estrada

Como a mão que me rouba a vida

Como a voz que canta a música

Na sintonia desses blues para uma sonata

Armada com a palavra amor, amor, amor

Quando eu acordo

Acorde insensato nato

Deparo com tua tez sutil

Neste olhos de mar anil

Numa boca esperta e gentil

De poucas palavras, todas sensatas

Ditas e medidas com o coração

Canção em verbo nos blues para uma sonata

Roubando a palavra amor, amor, amor

Quando em acordo

Acorde insensato nato

Bate e rebate saudade e dor

Tantas músicas, temas e essa flor

O teu descaso, o teu bom-senso e o teu pudor

Uma baixa triste em si bemol

A música fúnebre que elas cantavam

Interrompendo esses blues para uma sonata

Na distorcida palavra amor, amor, amor

Quando eu acordo

Acorde insensato nato

Procuro o meu seguro Porto

Tuas mãos, esses beijos ao corpo

Uma vida em espelho torto

Para fugir desta para outra realidade

Sem destruir um encanto chamado cidade

Na construção desses blues para uma sonata

Com fragmentos da palavra amor, amor, amor

Só quando eu acordo

Acorde insensato nato

Desmedidas são as pessoas

Utópicas são as paisagens

Erótica é a tua presença

Inflamada como o gozo das virgens

Num grito uníssomo de uma quarta em alta

Brilhando nesses blues para uma sonata

Articulados na palavra amor, amor, amor

Como quando eu acordo

Acorde insensato nato

Sinto as garras na ponta do travesseiro

Acuado e estúpido passageiro

Mero viajante sem ser estrangeiro

Muro de areia, cara de vidro

De manhã o seu chá, a noite o meu vinho

Tampas servidas em blues para uma sonata

Tragadas na essência da palavra amor, amor, amor

Também quando eu acordo

Acorde insensato nato

Na fumaça esmaecida de uma manhã

O fino aroma invade esta maçã

Na loucura insana, velas de uma capitã

Vagueiam as normas, o ar deste sítio

Lua, revolta, animais no cio

Falando em blues para um sonata

Extrato da palavra amor, amor, amor

Porque quando em acordo

Acorde insensato nato

Noto uma falta, um olhar, este grito

A música, a palavra, um ser aflito

Um gota, uma voz, o amor arrependido

O choro, o aperto, as mãos estendidas

O sax, a balada, uma noite calada

Suspensa pelos blues para uma sonata

Decantando a palavra amor, amor, amor

Mesmo que eu acorde

Acordo insensato nato

Não espero a palavra certa

Na hora dessa passagem

Calo, bebo, fico sozinho

E sonho os mais lindos desejos.

Peixão89

Peixão
Enviado por Peixão em 25/03/2005
Reeditado em 18/07/2006
Código do texto: T7826
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