Se os meus olhos falassem
Se os meus olhos
Falassem
O que por ti
Sentem
Visto que eles não mentem
Talvez se envergonhassem
Num rubor
Que sorri
De contente
Um súbito calor
A germinar
Uma dourada
Semente
Enfeitariam o chão
Que tu pisas
Timidamente
Desenhariam
Um coração
Na calçada
Só para quando
Caminhasses
O beijasses
E sentisses o atrito
Do desenho
Silencioso
O meu grito
Clamoroso
Pelo que não tenho
Talvez assim
Olhasses
Para mim
Me desnudasses
Me visses
Como o teu jardim
Abrisses
O meu diário
Visses
Página a página
Por ti decorada
Numa textura aveludada
Desfolhasses
Vagarosamente
O meu sentimento
E me apreciasses
Talvez escutasses
A minha ténue voz
Que passa despercebida
Sempre
Suave
Antes de seguires
Em frente
De partida
Com a tua estridente
Vida!
Luísa Rafael
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Porto, Portugal