Nas sombras

Ele costuma sair, ficar ausente...

Devastadora força que vem com o poente

Abduzido por pensamentos inconfessos

Da loucura e seus excessos

Sai encapuzado, no afã de cobrir seus pensamentos

Fita o chão, mas de uma voadora é o momento

Mente com os pés no peito da razão

Dá vozes a sua imaginação

É na calada da noite...

Fugitivo da moral e seu açoite

Ideias e pecados convergem

Das profundezas emergem

Pensamentos sombrios et caterva

Camuflados, na segurança das trevas

Esgueiram-se por futuros incertos

Princípios veem precipícios por perto

Ele viaja no amor impossível

Contatos de 3º grau com o fantástico intangível

Sedento da mágica, quer sua porção

Volta ao passado encontrar a redenção

Se foi mal, faz diferente

Se foi bom, faz novamente

Príncipe sapo, por ela encantado

Brejeiro, as terras do seu reinado

Mas é noite de lua cheia

E algo estranho que não regateia

Sente a necessidade de se esconder

Parece não ter para onde correr

Tem medo do machucar

Algo começa a incomodar

De dentro para fora

Pensamentos com esporas

Oriundo do fígado, arranhando o coração

Do seu ódio, a justificação

Fecha os olhos inutilmente

Vislumbra hordas de idiotas à sua frente

Inocente, tapa os ouvidos

Atravessam ondas diabólico-sonoras e seus gemidos

A boca não vai segurar o bagulho

O presente sem orgulho, no estômago um embrulho

Acelera o passo

O destino corre para o abraço

Tenta escapar por entre becos

Sinal da cruz para se benzer

Sua pele começa a arder

Raiar do sol numa pele de vampiro

Quixotextos (scos) nos seus últimos suspiros

Sangue sempre fez parte da sua dramaturgia

Mas a verdade rasga em agonia

Não ficará restrita a um verbete

Não existe vassoura nem tapete

Bibliotecas implodirão com seu peso

O ridículo é só um indefeso

Assustadora, quer arrancar-lhe a roupa

De consolo que não é pouca

Estrupo de uma imagem vulnerável

Do grotesco, insaciável

A miséria da alma como aval

Leitores testemunhas do pouco sal

Mas num (de) repente a salvação

De amor com flor encontra um botão

Aperta e torce para que seja o de ejeta

Pula fora com seu ultraje de poeta

Na poesia a eclipse dos segredos

Mesmo que no teclado um outro escape pelos dedos

De qualquer forma, liberado para vomitar suas sandices

E viva o personagem! Salvaguarda da charlatanice