Anjos Siameses
Meu engano,
É tanto teu quanto meu,
Mais meu do que teu,
Foi um impulso profano,
Que ao meu sagrado rompeu.
Teu olhar tão doce
Carrega as delicias da volúpia animal
Quem dera junto fosse
O amor de alma, mais do que o carnal.
Talvez junto com seu corpo
Tenha amado mais sua alma que a minha,
E desse jeito torto, caiu morto,
Meu desejo em minha ruína.
Eu quero te querer até este momento,
Lutando contra sombrios pensamentos,
Certas horas me arrebatam sentimentos,
Dignos dos céus mais sublimes, aos desprezíveis excrementos.
Sorriso teu, vi eu numa fotografia
E como numa pálida monotonia
A alma trai o sentir do poeta,
Me entreguei novamente, do cupido, a seta.
O silêncio aqui tem o som da sua voz,
E cada canto, recôndito, teu cheiro,
As paredes tem um quê de desespero,
E a solidão se avança mais atroz.
Mal nenhum que tenha feito a minha carne
E ao meu insolente coração
Se compara a dor imensa
Que me aflige minha própria insana ilusão.
Dentro de mim, há um anjo siamês
Um diz vai-te pra sempre
Outro implora-te que volte,
Ainda esse mês.
Elogio a coragem da minha loucura,
Abomino essa cabeça de anjo sem miolos,
Anseio que logo se desvele a cura,
Em qualquer amanhecer, diante de meus olhos.