SOMBRANDO
Nosso lado sombrio sobrevive à margem da vida.
Se esconde nos cantos tal bicho assustado,
tal criatura foragida da lei, tal vento que perdeu o rumo.
Parece inócuo, inofensivo, incapaz de fazer mal à uma pulga.
Mas num dado momento, o coração volta a bater.
Assim entra no palco com faca nos dentes, sangue no olho
e a vontade incansável de colocar tudo água abaixo.
Não deixa pedra sobre pedra, não perdoa um tiquinho que seja.
Faz tudo virar escombro, não descansa até esculpir o
seu cenário de horror com maestria, com capricho.
Daí quando percebe o mal feito, relaxa e volta à toca,
lá ficando feito anos a fio.
Então é novamente convocado pra guerra,
entrando em campo com granadas em cada poro,
vingança em cada fio de cabelo,
empunhando um mandato de destruição legítimo.
E repete seu mantra maldito, imensamente maldito.
Até se cansar e decidir sumir de vez.