Da Visão de Um Louco

Ver o mundo pelas telas de um louco

Em seu quarto escondido

Meio rouco de pensar

Nas tintas da TV adormecida

Ele encara a vida

Enquanto lá fora vão acreditar

Ele urge contra o tempo retorcido

E pinta em seu olhar perdido

A natureza num altar

A loucura já lhe virou estrela

E ele espera todo dia na janela

Que os outros venham lhe buscar

Ver o mundo pelas vidraças de um louco

Em seu quarto fechado

Meio rouco de viver

Nos portais da janela semiaberta

Ele quase acerta

Que o destino não vai comparecer

Ele odeia o dia feio e ensolarado

E deixa em seu corpo suado

A cicatriz do lazer

A loucura já lhe virou graça

E ele espera todo dia na fumaça

Que os outros venham lhe benzer

Ver o mundo pelas lentes de um louco

Em seu quarto deserto

Meio rouco de rir

Nos degraus da escadaria amaldiçoada

Ele não faz nada

E deixa o mundo inteiro se esvair

Ele queima tudo de peito aberto

E vê no futuro um concerto

A chuva um souvenir

A loucura já lhe virou gente

E ele espera todo dia na mente

Que os outros venham lhe servir

Ver o mundo pelos sonhos de um monstro

Em seu quarto louco

Meio rouco de compor

Nas ameias de uma mente tortuosa

Ele converte a prosa

Lançando ao inferno a quem supor

Ele desiste de tudo o que está pouco

Tela, vidraça, lente e troco

O cometa salvador

A loucura já lhe deixou medonho

E ele espera o dia enfadonho

Que os outros venham lhe depor

João V Zibetti
Enviado por João V Zibetti em 24/06/2023
Código do texto: T7821279
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