Lucidez

Quero estar/vencer o tempo e a distância

Beber ventos e tempestades que se avizinham

Voar os abismos e montanhas que me cercam

Entranhar ausências que me rondam

Nadar os mil e um rios que me convergem

Afrontar os mares que se horizontam

Descerrar de súbito as janelas dos olhos

Antes eternamente fechadas

Para num mergulho inequívoco

Na imensidão uterina da palavra

Cometer premeditadamente

Sem remorsos prematuros

Um verso de amor na

Aridez do pensamento

E depois doar o peito ao farpado do arame

Dilacerar com as mãos essa ferida viva

Até larga o bastante para ver pulsar

No compasso lento do relógio de parede

Desvairado e vermelho,

Meu patético coracão de homem