Nudez
Não quero a lírica de Drummond
Nem o realismo poético de Pessoa
Deixo o canto guerreiro de Neruda
Margeio o parnasianismo de Bilac
Abandono a leveza de Meireles
Desempresto a sonoridade de Vinícius
Viro a costa á simplicidade Coralina
Desaprendo a métrica de Bandeira
Adeus a espontaneidade de Quintana
Submerjo a rima amazonina de Thiago
Estou só para mim mesmo
Agora sou eu, meus atos
Minhas frases e meus hiatos
Minhas sílabas entrecortadas
Minhas pausas existenciais
Escreverei o que foi escrito
Com outros versos
com outras palavras
Rabiscarei pedacos de mim
Por isso ninguém poderá
Dar-me a mão nesse caminho
Devo parir na solidão o verso que abrigo
Correr o risco de estilhacar-me ao chão
Quero sozinho lancar-me do precipício
Ir-me perigosamente á deriva além mar
Onde espero um dia encontrar
Um novo horizonte de sentidos
Para que eu possa entoar um novo canto
Refazer a melodia que se desintegrou com o tempo
Inscrever na pedra, no aco e na quina do papel
Minha alegria tola e descabida de machê e de cristal
Esparramar minha tristeza ao chão de um presépio
[ de natal