A CASA DO ONTEM

Vou voltar para minha casa

que já não existe mais

Reencontrar as minhocas

no chão da terra soterradas

ver as formigas agitadas

carregando o mundo nas costas

como se não pesasse nada

pegar as folhas das papoulas

que eu não comia, porém mastigava

duelar faroestes com vilões imaginários

apostar corrida com o vento

mas era ele quem sempre ganhava

e brincar de professor dando aula

Vou abrir a janela do quarto

contemplar o sumir da madrugada

comer cuscuz com leite no festim matinal

beber vitamina de banana com Nescau

escovar os dentes e pentear os cabelos

com aquele menino me olhando no espelho

beijar a bochecha do meu pai desbarbada

pedir a benção da minha mãe ainda deitada

e sair para a escola que ficava

no outro lado da rua que beirava

próximo da esquina onde o bairro terminava

Minha casa que não era pequena

tinha o tamanho de um castelo

por onde imensos dias passavam

e eu dentro dela era o rei que reinava

na folia dos meus tantos folguedos

A casa que o tempo

ao passar do tempo demoliu

era toda pintada de infância

e no seu interior a eternidade morava

Vou voltar para minha casa

que já não existe mais

Joaquim Cesário de Mello
Enviado por Joaquim Cesário de Mello em 20/06/2023
Reeditado em 20/06/2023
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