Batismo

Eu nunca fui de mim

Nunca estive comigo

É que diante dos meus castigos

Nas escadarias do meu abrigo

Eu sempre cometi

Suicídios, desperdícios

E lá sempre dei de comer

Aos meus delírios e vícios

Eu nunca me pertenci

E nunca sei pra onde vou

Porque não costumo demorar

Nos lugares que não estou

Seja eu talvez

uma mistura heterogênea

De luz de vela e motins

De novelas e novenas

De bolhas de cetim

De ditados sem fonemas

Me procuro no outro

Porque é nele que me percebo

É nele que me beijo

É nele que desconheço os meus rostos

Que adoto os meus abortos

E quando "esse outro"

Cansa de me enganar

Derrama suas pálpebras

No chão do meu olhar

Sigo rastejando meus sonhos

Me pendurando no mural de estranhos

Tentando me imprimir

Molhando o colírio

Sem deixar rasuras

Nos olhos daqueles

Que estão à minha procura

Pra saber o quanto dói

A inexistência que em mim corrói

Porque perder-se dentro de si

Sem se despedir

Manifesta n'alma

Medos e fissuras

Geleiras de ternuras

Sem nomenclaturas

E sem abreviaturas.

Fasa
Enviado por Fasa em 19/06/2023
Código do texto: T7817740
Classificação de conteúdo: seguro