Alma Cigana

Como posso meu Deus/

Deixar de não beber/

A tua espontaneidade/

Nessa idade/

Como não poderia abdicar/

Da sanidade/

Se me vens sem vaidades/

Acendendo a luz na escuridão /

Dessa cidade/

Plantando a semente no chão/

Me rodeando feito cigana/

Nas ruas desse salão/

Ah meu coracão/

Traiçoeiro que só ele/

Ah meus olhos/

Cumprece dessa visão/

Que paixão/

Um rio diante de mim/

Pedindo só pra mergulhar/

Uma filha de Eva pra amar/

O que me pedes sem disfarces/

Por que me enfeitiças/

Me atiças/

E te escondes por detrás dos tajás/

Esparramadas nesse capinzal/

Sob um céu carmim silencioso/

Só pra eu ouvir o teu sussuro chamar/

Esse dorso desnudado/

Clamando pra ser lambuzado/

De uma fome sem igual/

Como eu/

Simples mortal/

Poderia refrear o desejo seduzido/

Vinho dividido/

Amor oferecido/

Mesmo que a cegueira /

Me tivesse ouvido/

Não teria forças pra fugir/

Pois já arde no peito a libido/

E a vontade incontrolável/

De te arrebatar a alma/

Como um bandido/

Cansada de esperar um adido/

Alguém que te envenene/

Que te marque/

Sem feridas doloridas/

Que te faça gemer o gemido/

Perdendo os sentidos /

O pudor e a moral/

Num voo de prazer incondicional/

Encerrado num grito de um mundo/

Que só os desvairados/

Amantes inveterados/

São capazes de sentir/

Ah por que só agora vieste me ver/

Nunca é tarde pra se amar/

Mas o tempo é curto/

Pra tudo que a vontade/

Em par solfejar/