Passageira

Esquecidas pelas labaredas do indômito tempo

Encontram-se as faces decompostas que a mesma carne um dia já personificaram

Veladas e por fim entroncadas aos feixes das várias passagens da vida

As múltiplas personas são apenas meros resquícios de pó, de personagens que aqui não mais estanciam

Hoje aqui, amanhã não mais.

O tempo esgotou-se

Enterrou-se a sete palmos de terra

Caiu no esquecimento de uma face atual cujas outras personas já não mais reconhece

Não há novos ensejos nos instantes que esfarelam e escorrem das mãos

A areia que concomitantemente golpeia o chão conta os segundos de tempo que aos poucos falece

Hoje aqui, amanhã não mais.

O que a persona decide é sempre fruto de pacto e não mais se desfaz

A face vigente busca constantemente ser esquecida

É distinta da face que há de ser encarnada no amanhã

É olvidada da face que ontem o esqueleto habitou

A única semelhança entre elas é o caráter distante

É a quietude gritante das vozes que sempre buscam abafar

São consciências furtivas que não se permitem alcançar

Tais faces anunciam que esse silêncio é o último despeito

Do que não se pode mais consertar.

Hoje aqui, amanhã não mais.