Carlinhos
Era uma vez um rapaz/
Como eras popular/
Chegavas a contagiar/
Tua humildade/
Tuas brincadeiras/
Teu riso solto no ar/
Como um menino/
A brincar/
Aqui e acolá/
De repente, não sei/
O que o teu coração segredava/
Que te afastaram de um lar/
Por repreensão/
A alguma má ação/
Que não cabe a mim julgar/
Mas na cidade continuavas a iluminar/
Até que veio o tempo mudar/
Não tive mais notícias/
Só te via pelo vidro trabalhar/
O tempo foi passando/
A gente na lida ,lidando/
Nada mais ouvir falar/
Tudo calou/
A poeira sentou/
Nunca mais nem te vi na rua passar/
Um dia meu amigo/
Pela frente do teu lar/
Num dia/
Até manobrei o carro/
Mas estava tão calmo/
Que não quis incomodar/
O tempo e o vento/
Sob o verbo do imprevisto/
Me arrebatou do teu lugar/
Vim parar em São Paulo/
Numa situação/
Que nos deixa sem pensar/
Após anos de distância/
Da tua terra/
Numa manhã fria/
Cuja tarde já fazia companhia/
Ao luar/
Eu na labuta do dia a dia
A cantar/
Para os males espantar/
Ouvir qualquer coisa adejar/
Era a gralha, que veio me calar/
Avisando, que você parou de brilhar/
Quando me dei conta da falácia/
Era um mau agouro que precedia/
Não aquele sorriso moleque/
Aquela pessoa amiga /
Que gostava de ajudar/
Eram as más notícias/
De tua vida acabada/
Na hora não fiz caso/
Porque não fazia sentido/
Se tinhas a semente do mal/
A tua integridade /
Nunca permitiu que os olhos/
Fossem além dos muros/
Solicitar da ordem, a verdade/
O teu carinho , a tua carência/
Os ensinamentos divinos/
E o teu amor por todos/
Apesar das ausências /
Jamais permitiria/
Que fizesse do teu passo/
Um descompasso no escuro/
Porém, a foto com teu corpo/
E a matéria com teu nome/
Não descrendeciava a realidade/
Não, não dá pra entender/
Meu amigo/
O que você quis fazer/
Assentado nas reflexões/
Meu coração e a cabeça/
Se negam a ver /
Como jornais e tv/
Estão pintado você/
De um menino luz/
A um bandido morto/
Sentenciado a bala/
Na esquina da solidão das ruas/
Largado de qualquer jeito no esgoto/
Talhado como matador da justiça/
Se tudo que a manchete fala/
For argumento da verdade/
Quanta coragem/
Pra jogar fora uma vida/
Meus olhos marejam de dor/
Enquanto o meu peito se afoga/
Em perguntas sem respostas/
E saudades/
Fazendo-me olhar o horizonte/
Pensando que legado deixas aos jovens/
A vida nem era pra se ter morte/
De tal sorte/
Ela manda recado/
Confirmando a todos, o conselho do pai do dia/
Que más companhias/
Estragam bons hábitos/
Era uma vez um menino/
Obs: humilde lembrança de um menino, que conheci, pelo nome de Carlinhos. E até onde sei fora criado sob os designos religiosos, era brincalhão, amigável e querido, mas pelos informes, sucumbiu aos prazeres desse mundo caótico.
Encerrou seu ciclo, sendo julgado e sentenciado por um projétil do Bope.
Meus sentimentos à família.